Kurt, quero agradecer muito por você ter vindo ao Brasil, e queria perguntar sobre algo que me tocou enquanto assistia S01E03, que foi esse sentimento de comunidade. Nos seus filmes, eu reconheço a contribuição de muitos nomes da cena de cinema independente no Canadá, por exemplo, cineastas como Sophy Romvari e Neil Bahadur, então eu queria perguntar: o quão importante é para você esse senso de criação coletiva na experiência de fazer seus filmes? Você faria filmes sozinho?
Kurt Walker: Eu não sou monolítico sobre o assunto, acho que depende do tipo de filme que estou fazendo. Eu faria um filme sozinho, dependendo do que quero expressar, mas, no caso de S01E03, é um filme francamente sobre amor, amizade e essa integração dentro de uma experiência virtual. Então foi natural que tivesse um estilo mais participativo e comunitário, porque estou tentando retratar um grupo de amigos online cujo relacionamento entre eles atravessa o planeta. Então, naturalmente, abracei não apenas esse tema, mas também esse modelo de produção, um modelo de produção comunitário de baixíssimo orçamento.
E é muito tocante para mim ser um filme sobre uma amizade online que também evolui e se relaciona com o mundo real, porque essa é uma forma de se conectar e de se socializar com os outros que minha geração experimenta muito. Como surgiu a ideia de fazer um filme sobre relacionamentos virtuais?
Kurt Walker: Então, o filme vem de anos de experiência pessoal jogando MMORPGs (Massively Multiplayer Online Role-Playing Games) e tendo essas experiências de conhecer pessoas online, de ir em aventuras juntos, criar novos amigos e adicionar uns aos outros em chats de mensagens. E então, um dia, eles simplesmente não voltam mais online, e desaparecem. E então você fica pensando: "o quê que aconteceu com eles?" Sabe? E eu nunca tinha visto isso em um filme antes. E eu queria expressar isso.
O filme tem apresenta mudanças de formato e de estilo durante sua duração, é um filme que pode pertencer ao subgênero desktop film (de filmes gravados através do computador), mas também apresenta cenas filmadas em 16mm e com um estilo mais geométrico de lidar com os atores e com o espaço. Como você relacionou esses diferentes modelos de capturar o interior e o exterior durante a montagem do filme?
Kurt Walker: Bem, quando você está trabalhando com um orçamento baixo ou com nenhum orçamento, porque este foi um filme feito por menos de 10.000 dólares, o que você realmente tem à sua disposição para elevar seus meios de expressão está na forma. Está na edição, na cor, na montagem e nos meios que você escolher. Então, com isso, eu simplesmente abracei o uso de uma variedade de câmeras e estilos diferentes. Mas também tentando explorar o máximo de cor possível. Porque eu não tenho os meios para fazer um tipo de fotografia bonita e perfeita. Então, em vez disso, com a ajuda dos meus diretores de fotografia, eu simplesmente abracei uma paleta ampla, mas específica, de cores para este filme.
Eu também queria falar sobre o outro filme exibido hoje, Hit 2 Pass, que eu gostei muito. E, assim como S01E03, é um filme que você fez com amigos. E é um filme muito físico, porque não é apenas sobre corridas e carros, mas também sobre a ideia de destruição e reconstrução. Como esse projeto surgiu para você?
Kurt Walker: Esse projeto chegou até mim por meio de um cineasta amigo meu chamado Tyson Storozinski, que me trouxe a ideia depois que seu pai o convidou para voltar à sua cidade natal, Prince George, que foi o cenário da corrida Hit 2 Pass. Então, fui convidado para desenvolver e dirigir esse filme. E, desde o início, eu não sabia realmente que tipo de filme seria, mas definitivamente não queria que fosse apenas sobre corridas e carros. Mas eu, Tyson, Neil Bahadur e John Lehtonen nos tornamos amigos muito próximos durante todo o processo de produção, e eu queria que o filme capturasse essa conexão entre nós e transformasse ela em algo tangível. E, com sorte, conseguir traduzir ela, fazendo um filme que tratasse mais amplamente da nossa amizade.
Em sua carreira como cineasta de longa-metragem, você lidou com diferentes tópicos, como carros e corridas em Hit 2 Pass e a amizade dentro da esfera virtual on-line de S01E03. Como a realização desses filmes mudou sua perspectiva sobre o tipo de cinema que deseja fazer? E em que tipo de filme você está trabalhando a seguir?
Kurt Walker: Então, com Hit 2 Pass e S01E03 eu sinto que expressei tudo o que queria fazer nesse formato, em torno do tema da amizade e do amor. Acho que Hit 2 Pass trata muito do amor platônico, enquanto S01E03 trata do amor romântico e também do amor platônico. E, em seguida, acho que vou tentar expressar o tema do amor familiar e todos os diferentes tipos de complexidades e nuances que ele traz. E tentarei expressá-lo de uma forma diferente, mesmo que ainda aborde o tema dos videogames, mas a partir de um ângulo diferente. Portanto, tento pelo menos fazer um tipo de filme novo e diferente a cada vez. Não quero, e espero que isso não aconteça, estar me repetindo.
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