Como surgiu sua colaboração artística com Aguilar? Como vocês se conheceram?
GREGORIO: Então, o nome de Aguilar já estava no
ar para mim pelo seu grupo musical chamado Banda Performática, que
ele desenvolveu com a colaboração de artistas como Lanny Gordin, Paulo Miklos, Arnaldo
Antunes, Teca Berlink e Jorge Mautner. E eu me lembro de uma vez que eu assisti
um vídeo no YouTube, há uns anos atrás, que ele realizava uma performance
cantada com a banda, intitulada ‘’Os Corações’’. E nessa performance ele
abria os corações de tintas com uma faca e fazia as tintas caírem sobre seu
corpo. É uma performance genial, maravilhosa
E houve um dia que eu estava na casa de um amigo meu, um
poeta e artista maravilhoso chamado João Reinaldo Paiva, e ele me perguntou
”Cara, você conhece os textos que o Aguilar escreveu?” E eu não conhecia. E
nesse dia ele me apresentou aos livros de Aguilar, eu li A Divina
Comédia Brasileira, O Hércules Pastiche, fiquei a tarde inteira
lendo eles. Eu descobri os personagens de Agripino de Paula, o Getúlio Vargas 1
e o Getúlio Vargas 2, quase como uma versão jovem e uma versão velha do
Getúlio. E o Artaud e o Sapato de Artaud. Eu fiquei muito impressionado com seu
aspecto de colagem, com seu senso de humor, com a leveza e, ao mesmo tempo, a radicalidade
muito expressiva da escrita, uma característica muito a ver com a própria
pintura de Aguilar.
O que mais me impressionava nos livros dele era esse aspecto
de delírio, onde você podia ter figuras distintas e diferentes habitando uma
mesma página, como por exemplo O Sapato de Artaud habitando um mesmo espaço que
um Presidente dos Estados Unidos, sabe? É uma forma de fazer com que essas
figuras façam parte de um mesmo mar sincrônico. Elas se comunicam entre si. Um
ser humano como o Aguilar, para mim, é uma pessoa que consegue penetrar em
campos distintos, nesse pensamento-vida amplo em suas diferenças.
E a primeira vez que trabalhamos juntos foi no período em
que estava planejando Inaudito (2017), meu longa-metragem
sobre Lanny Gordin. Naquela época eu já seguia o Aguilar pelo Facebook, e
ocasionalmente eu postava coisas que o Aguilar curtia e comentava, e na época
que eu ia fazer o filme o Lanny Gordin estava participando da Banda
Performática, ele era uma figura muito importante para a banda, tanto que
seu álbum clássico tem a foto do Lanny, e eu achei isso muito curioso porque
era em de um período de 1980 em que o Lanny não tinha muitas gravações em
disco. E eu achei isso muito forte, muito simbólico, por ser uma das únicas
gravações feitas pelo Lanny naquela época.
E nesse período eu mandei mensagem para o Aguilar dizendo
"Olha, eu vou fazer um filme com o Lanny Gordin, e a gente vai fazer ele
na China” e ele me respondeu “Vocês vão para a China? Então vem pro meu ateliê
agora!” E foi assim. E eu fui para casa do ateliê do Aguilar, e mostrei meus
trabalhos para ele, eu me lembro de ter mostrado um filme que tinha feito no
Parque Augusta e ele ficou vibrado com aquilo. Ele começou a falar comigo sobre
o ato de olhar, sobre o olho da experiência da primeira vez, e naquele momento
a gente teve uma identificação absoluta, como se eu já o conhecesse há muito
tempo. E o que eu mais me lembro era de sentir que o Aguilar conseguia
atravessar um portal, sabe? Ele é um artista que consegue ficar do outro lado
do portal. Geralmente as pessoas ficam em volta, mas não ele, ele consegue
viver dentro dele. Foi um encontro muito bonito, ele me abriu um aspecto do
Lanny que eu não sabia como colocar em palavras, eu só intuía.
E a partir disso começamos a nos encontrar com regularidade,
almoçávamos juntos, eu ia demais para a casa dele, ele mora em uma casa no
bairro Bixiga em São Paulo, que é um dos bairros mais interessantes da cidade.
E aí a partir disso eu o convidei para participar do Inaudito (2017),
e o filme tem uma curiosidade porque os artistas que eu convidei para
participar do filme eram o Aguilar, o Macalé, e o Negro Leo. Eu acho que eu não
tive o interesse de chamar artistas como o Caetano ou o Gil porque o filme era
muito sobre a versão atual do Lanny, sobre esse processo moderno do Lanny. E o
Aguilar realiza uma performance linda no filme, ele pinta o branco sobre o
branco, em uma parede branca. E aí quando eu separei as imagens gravadas do
filme, ele começou a falar pra mim “Vamos continuar a fazer coisas juntos!”
Foi um convite que veio dele. E a partir disso nos estabelecemos uma
parceria. Acho que até hoje nós conseguimos fazer mais de 30
performances juntos, ou mais.
A gente trabalhou tanto junto que eu o considero como uma
família, como uma espécie de amigo-pai-filho. Ele é um grande amigo para mim,
ele sempre me acompanha. Eu me lembro que fizemos uma vídeo instalação
recentemente lá no Sesc Consolação, e ficou uma coisa divina. Eu semanalmente
vou para a casa dele, eu sento com ele e a gente bate um papo. Durante a
pandemia a gente fazia live toda semana, a gente desenvolveu muitos projetos
juntos, ele é uma figura que me ensina muito. Ele me ensinou e me levou para fazer
Tai Chi Chuan, me ensinou a ser mais intuitivo e espontâneo. Então considero
ele simultaneamente um grande mestre, um grande amigo, e um grande parceiro.
Eu queria perguntar sobre os dois filmes que estão sendo
exibidos nesta mostra e que você codirigiu com Aguilar, o Tomoaki
Tomoshigue (2021) e o Agripino (2023). Como foi o
processo de realizá-los? É especialmente fascinante ver Agripino por ser um
filme feito sobre a pintura de película de 35mm.
GREGORIO: Então, antes de Tomoaki a
gente fez juntos "O Olhar do Boto," que é um filme
de 1 hora de duração que a gente projetou em uma piscina de 15 metros do Sesc
Consolação. E antes mesmo desse filme eu já tinha filmado muita coisa com o
Aguilar, a gente teve vários ‘’pré-filmes’’ vários ‘’quase-filmes,’’ por assim
dizer. E o processo de Tomoaki veio de conversas nossas sobre um tipo de cinema
‘’presencial,’’ e foi o Aguilar que criou esse nome, ele é um artista com um
verniz filosófico que vem da geração do Jorge Mautner, e a partir desse
conceito a gente desenvolveu a ideia de um filme que fosse centrado ao redor de
uma conversa, e que capturasse pela câmera os rostos que escutavam. Era pra ser
um filme partindo do mínimo múltiplo comum, essa ideia da escuta e da fala.
E foi tudo muito espontâneo, a partir disso teve a entrada
do Tomoshigue Kusuno, que é um dos grandes artistas brasileiros, ele é um
japonês zen, um vagabundo iluminado, um dançarino, pintor, viajante do
mundo, e que tem mais de 50 anos de amizade com o Aguilar. No processo de fazer
o filme a gente foi na casa dele com um arsenal de duas câmeras, eu lembro que
eu utilizei uma com lente de 70-100mm. E o processo de fazer ele era um jogo
mesmo, aonde uma câmera ficava só no rosto do Aguilar, e outra no rosto de
Tomoshigue, sendo todas guiadas pela conversa ''conduzida'' pelo Aguilar.
É um processo quase magico de criação e colaboração
artística, tem uma pintura zen japonesa que é um circulo que pode ser feito e
representado em um único movimento pela mão, por um único gesto, e eu considero
esse filme a partir desse movimento. Foi muito impressionante assistir ele no
MAM, em descobrir este filme novamente. Eu acho que está na hora dele ir
atravessar o mundo, e a gente começar a mandar ele para novos lugares. É um
curta-metragem que é sobre o encontro de duas figuras incríveis, o Tomoshigue e
o Aguilar, que se guia por uma comunicação guiada por um principio de
incomunicabilidade. Pelo entendimento entre eles, pela pintura, pelas tintas,
por essas falas livres que eles realizam.
E o Tomoaki é mesmo um filme de mínimo
múltiplo comum, ele é quase como uma refeição japonesa, é feito por um corte,
por pouquíssimos cortes, por poucas coisas, pouco ornamento. Foi uma preparação
baseada em uma mínima ação e um mínimo de acontecimentos. E foi assim que ele
existiu. O filme tem esse titulo porque esse é nome japonês de Tomoshigue. E o
filme é, obviamente, um díptico, mas ele inicialmente iria se desenrolar em uma
só tela, mas quando eu cheguei ao processo de montagem eu me lembrei de dois filmes
que o Aguilar tinha feito, o Sonho e Contra-Sonho De Uma Cidade (1981)
e A Divina Comédia Brasileira (1980), que são filmes de duas
telas, e a partir daí me pareceu natural e básico que fosse assim. Dois planos
para dois rostos. Então é assim que o filme nasceu. E o nascimento já é ele.
Já o Agripino foi um processo bem
diferente, ele foi desenvolvido durante a pandemia, porque eu estava fazendo
essas lives com o Aguilar semanalmente, que eram também exercícios de
experimentações, em que a gente tocava, ficava pirando juntos, fazendo
personagens em todas as semanas. E eu sempre fui um apaixonado pelo Agrippino (o
Arthur Bispo de Rosário), pela Lygia Clark e pelo Hélio Oiticia, esses artistas
pra mim fecharam uma quadratura do Brasil do século 20. Eu sempre achei eles
grandes artistas, e eu tenho um livro do Agripino que não é exatamente um
livro, mas é um texto de uma peça dele intitulado "Nações Unidas.” Que
teve uma recepção na época de silencio absoluto, ninguém fala desse livro.
E esse texto é uma peça de teatro, e o Agripino é tão genial
que ele já começa dizendo isso: “Isso não é uma peça de teatro, isto é um
show!” E é uma peça que pode ser encenada em diversas ordens, e eu li muito
dela durante a pandemia. Eu fazia várias leituras para as nossas lives, e
muitas leituras de textos do Agrippino, para mim o Hitler do Terceiro
Mundo(1968) é um filme que estão tão aquém, tão além de qualquer
comparação que talvez seja mesmo o grande filme brasileiro daquela época. É um
filme que aponta para o futuro. E o Agripino é um amigo próximo do Aguilar,
eles estão muito juntos, o Aguilar acompanhou o Agripino até o final da vida
dele, e a gente vê no livro Verdade Tropical do Caetano Veloso
que o Agripino é um dos formuladores da ideologia da época do tropicalismo. Ele
era uma figura muito importante no Brasil.
E nessa amizade com o Aguilar, o Aguilar fez a capa do
livro PanAmérica, e eu considero que a figura do Agripino me
protegeu de alguma forma, mentalmente falando, eu não sei explicar porquê. E
quando a pandemia chegou ao fim e eu e o Aguilar passamos a nos encontrar
presencialmente, eu mostrei que tinha guardado em casa um rolo de película 35mm
de um filme que eu tinha feito na minha juventude com o meu irmão. Eu havia
codirigido ele com meu irmão. E esse filme ganhou um prêmio em um festival que
fez com que ele tivesse sido convertido do digital para película. E dentro
desse processo houve uma película paralela de som, da banda sonora, para colar
junto da imagem.
E nesse encontro nosso me veio essa ideia, porque eu sempre
via o Aguillar pintando, eu vou para a casa dele semanalmente, eu fico sentado
com ele no ateliê conversando horas e horas sobre vários assuntos, e então
falei pra ele ‘’Nossa Aguilar, me veio a ideia de fazer um filme pintando
sobre a película!” E isso é um conceito básico, né? Porque hoje em dia
pintar em película é algo que as pessoas conhecem, especialmente depois que o
Stan Brakhage aperfeiçoou esse procedimento, então não é algo de muita novidade,
mas era um método que iria trazer algo de aprendizado pra nós, de curtição.
E o Aguilar respondeu na hora pra mim que toparia fazer o
projeto, ele me falou ''Compra tinta de vitral, compre as cores que você vai
pintar, vamos fazer essas pinturas juntos.'' Então foi incrível, porque a gente
estendeu o campo de trabalho no ateliê dele. E o ateliê do Aguilar é grande, é
retangular tipo uma caixa de sapato mesmo. A gente abria o rolo e era 10
minutos a duração total do filme, e a gente for cortando cada parte e formando
quase que uma tela no chão. E a partir disso eu, o Aguilar, o Sérgio
Villafranca (que estava com a gente na assistência da pintura), e o Rodrigo
Gava também, se não me engano, ficamos andando e jogando pintura, andando e
jogando pintura.
E esse era um processo de aprendizado em si. Eu fui
aprendendo com o Aguilar pouco a pouco em como eu poderia ser conduzido pelas
tintas, de como eu poderia ver o que as tintas queriam, aonde que elas iriam me
levar. As tintas nesse processo pareciam que me levavam a lugares inéditos. E o
Aguilar, como ele tinha um cineclube herdado do pai, sabia bastante como
manejar material de película, então ele conseguia pegar e recortar com
facilidade tudo. E no final do processo a gente embrulhou em pacotinhos de papel
manteiga, em rolinhos pequenos que a gente guardou em uma caixa de isopor, no
qual eu levei para minha casa.
E aí quando veio o ímpeto de organizar essa mostra no MAM,
eu avisei ao Ruy Gardnier sobre esse filme e ele ficou entusiasmado em trazê-lo
para o Rio. E aí aconteceu esse milagre de poder exibir esse filme. E a sala
estava cheia, né? Estava com um clima quente.
E a sensação de ver esse filme é de entrar em uma máquina do tempo, uma
conversa telepática com o Agripino. Foi uma projeção muito forte, fiquei
encantado. E por isso que esse filme teve esse nome, foi uma homenagem a tudo
que o Agripino protegeu na gente.
E eu aprendi com o Aguilar... o Aguilar muitas vezes escreve
nomes para os quadros, e ele me falou uma coisa que acho fascinante. Ele me
falou: ‘’Ah, eu faço literatura e não pintura!” Então tem sempre essas
invenções "Aguilarrianas." Mas eu entendo ele, porque ele
pinta e as vezes também nomeia a obra, ele cria um título, uma frase especifica
que transforma a relação com a imagem, e imagem em troca transforma a frase.
Quando a gente nomeou esse filme de Agripino, o Agripino fez uma
comunicação telepática com a gente. E esse filme é uma conversa com o Agripino.
E eu acho que ele ainda está em processo, a gente encontrou
material de uma entrevista inédita com o Agripino, e o som neste filme ficou
incrível! Porque era o som de material de 16 quadros por segundo, então eles
parecem vozes de... daquilo que o Deleuze fala, né? Do Caos, de um plano do
caos. Então é a criação desse plano que se você entra com a cabeça você pode
ser devorado, se você não estiver preparado. Mas se você permite que as forças
do caos brotem, elas fluem e se conectam com o caos. Ele fala isso no livro ‘’O
Que É a Filosofia?” Como um conceito de criação de uma ética.
E essa ética seria justamente permitir que as forças, os
movimentos, as fraquezas do caos possam nascer espontaneamente por elas mesmas.
E a gente deixar esse plano acontecer. Por exemplo, o Deleuze fala de plano de
composição, plano de imanência, plano de consistência, e esse plano de caos, e
de um plano de imagem. E eu considero que esse filme, essa película
transparente, essa membrana transparente é um plano de composição para que o
Agripino brote. E Foi assim que ele nasceu, desse processo.
Então, uma última pergunta, como foi para você a recepção
do público dessa mostra no Rio de Janeiro? Como foi ver o público reagindo aos
filmes e as performances? E para você, como você se
sentiu com as projeções dos filmes?
GREGORIO: Eu achei maravilho primeiro porque é a
primeira vez que o trabalho dele em vídeo é apresentado em uma mostra, e eu
adorei que tinha pessoas de todas as idades, uma molecada e rapaziada nova,
pessoas legais demais, junto de pessoas mais velhas que eram amigas do Aguilar.
Então é muito legal porque tem alguns filmes do Aguilar que são mais
provocativos, especialmente em relação ao tempo, a duração, aos retratos que
ele fazia de pessoas, ele faz do uso da câmera... é uma câmera que não filme,
né? É uma câmera que navega e mergulha. É um mergulho.
Então foram três dias maravilhosos, eu acho que nesses três
dias acabou formando uma espécie de familiaridade, e uma família até de
amizades porque você encontrar um espaço de vivencia compartilhada. E é um luxo
também poder estar perto do Aguilar, já completando 83 anos de idade. Foi uma
festa, uma grande festa. E foi muito legal trazer meus amigos de São Paulo para
esta empreitada, criar essa membrana de conexões, e poder ocupar a Cinemateca
do MAM que é um espaço muito forte culturalmente, aquele espaço tem uma energia
absurda, uma energia forte e quente.
A gente sente o espectro do Hélio rodando, o espectro do
Glauber filmando o Di Cavalcanti. E é um lugar que inúmeros filmes foram
projetados sobre a tela né? Eu acredito que toda vez que um filme é projetado
algo dele fica na tela após o termino de sua projeção, então de certa forma uma
espécie de palimpsesto espectral cinematográfico é gerado. E aquela sala é
incrível, ela parece um aeroporto dos anos 50, e aquelas cadeiras geram um
barulho, então a sessão fica quase John Cageana. E ela balança, então é ao
mesmo tempo uma cadeira e uma rede. Enfim, foi uma grande festa. E pude fazer
tudo do lado da casa da Clara Choveaux, que é meu amor, além de trazer o Sérgio
Vilafranca e o Henri Daio aqui no Rio... Qual era a outra pergunta que você fez?
Acredito que não tenha outra, mas agora me surgiu um
pensamento: Com o próprio Aguilar reagiu as exibições e as perfomances? Eu
adorei que tive a oportunidade de participar ao vivo de uma delas, quase como um
entrevistador no palco, com o Sérgio Vilafranca e o Henri compondo a banda
sonora também.
Olha, ele estava feliz pra caramba! Ele reagiu como em
uma festa. Eu me lembro de um momento inesquecível que ele falou que viu o
Dante Alighieri na plateia, e ele falando isso em direção a audiência. Então
foi uma transmissão de intensidades. É insuficiente fazer um evento do Aguilar
apenas com projeção, porque a figura dele demanda um ato performático e colaborativo
com o outro. A sala de cinema precisava então não ser ‘’apenas’’ uma sala.
Precisava quase que se transformar em um quarto de criança, de brinquedos. Ou
ser uma sala de crianças.
E eu gostei muito da sua participação Francisco, porque
naquele dia a gente estava tentando estimular mais o Aguilar, fazer mais
perguntas e questionamentos para ele, e aí eu me lembrei de você e te chamei
para ir ao palco. Para fazer uma performance de uma pergunta no palco. E você
foi ao palco, sentou em posição de lótus (quase meditativo) e fez sua pergunta.
E você fez uma grande pergunta que é sobre a intuição! E a intuição é a grande
pergunta permanente na trajetória do Aguilar.
Foi uma pergunta que eu fiz porque eu fiquei muito
fascinado com essa ideia do inconsciente, do ato de criação intuitiva da
pintura ser quase com a pintura guiando a si própria, eu acho isso incrível.
Exatamente, que é a ideia de projeção!
A projeção, sim.
Se um artista como o Aguilar ensinou para gente que o que
leva e guia ele é a tinta, que ele obedece aos caminhos da tinta, acho que o equivalente
para nós no campo de cinema seria a luz. A gente dança pelo movimento da luz.